Por Anderson Domingos de Oliveira
Há horas em que o altruísmo cansa
Cansa quando percebemos que tudo que fazemos parece em
vão, que cada gesto de respeito, de atenção e cuidado não fora suficiente.
Apesar de tudo e de toda a dedicação, as vontades internas acabam sendo maiores
que o respeito e a renúncia por um bem maior.
Segundo o dicionário, altruísmo significa atitude de amor
ao próximo e ausência de egoísmo. É também
considerada uma doutrina ética que indica o interesse pelo próximo como um
princípio "supremo" de moralidade.
Pelo exposto acima, logo se percebe que o altruísta e o seu
altruísmo estão, infelizmente, em constante diminuição e desuso. Com toda a
ostentação, com toda a vontade de mostrar ao seu semelhante (que você julga ser
inferior a você) que você tem, você pode e/ou que você é tudo o que quer ser
por ter um pouco mais de posses, tudo o que se cultua como do momento, da moda,
do que deve ser o belo, cada dia as relações vão se esvaindo, vão se esvaziando.
Percebemos como o egoísmo se mostra a cada dia mais presente nas relações
interpessoais.
Mas então você pergunta, já que o altruísmo é uma atitude tão
nobre, de cuidado com o próximo, como alguém pode se cansar de tal gesto?
Simples, cansa fazer o correto, cansa fazer o bem numa sociedade
tão eivada de vícios e tão impregnada de desrespeito. Diga-me você se não lhe
trás um sentimento de frustração quando o “esperto” passa na frente de todos que
estão aguardando o semáforo abrir para contornar aquela rua. Esse é um mísero
exemplo de como todos os dias somos desrespeitados e muitas vezes somos desrespeitosos
com aqueles que estão ao nosso lado.
Contribuindo para o texto, trago o significado de egoísmo. Amor próprio excessivo, que
leva um indivíduo a olhar só para as suas opiniões, interesses e necessidades,
e que despreza as necessidades alheias. Portanto o
egoísta só se interessa pelos seus sentimentos e vontades, quem está ao seu
lado, pouco importa, o importante é realizar suas vontades, independentemente
de suas vontades atingirem alguém. O egoísmo é o inverso do altruísmo, o
altruísta é solidário com o próximo.
Então
me diga, identificou alguém em um destes dois extremos? Acredito que sim,
talvez mais facilmente um egoísta, pois como havia dito, ostentar as posses e
mostrar ser melhor e mais que os simples mortais está muito em voga na nossa
sociedade. Mas pense, quem ostenta, ostenta o mais do mesmo, o ostentador, o
egoísta, mostra que possui inúmeros relógios, roupas, carros e veja como soa
familiar perceber que tudo que é ostentado é apenas um número maior de coisas
que eu, você e qualquer mortal possuímos. O meu único relógio marca as mesmas
horas que os inúmeros relógios do ostentador, minha roupa me veste do mesmo
jeito que as inúmeras coleções que o ostentador possui. Perceba que no fim de
tudo, o ostentador sempre busca mais e mais, nunca está pleno e satisfeito, sempre
há um vazio em seu interior.
Existe
um tipo de altruísmo menos etéreo, um pouco mais terreno, chamamos de altruísmo
recíproco, o seu conceito reside em ajudar uma pessoa e mesmo que num futuro
muito distante, aquela pessoa possa nos ajudar retribuindo aquele primeiro
favor.
Mas
voltando ao altruísmo, dois fundamentos que baseiam o altruísta são a empatia e
a ética, porque é importante que uma pessoa se coloque no lugar da outra,
entendendo o que ela está passando e atuando de acordo com isso. Então, quantas
vezes você viu alguém tendo gestos nobres como estes ultimamente? Quantas vezes
você fez isso este ano?
Dá
para entender agora o motivo de eu estar cansado do altruísmo?
Vamos
a mais um conceito, amor próprio.
Achei
esta referência num site, e achei muito pertinente:
O amor
próprio é o amor
que as pessoas têm por si mesmas. Muitas vezes as pessoas, por causa de
fraquezas antigas, de crises mais recentes, não conseguem defender seus
interesses para satisfazer suas necessidades. É um grande tema da
psicologia e da psicanálise, já que faz parte do cotidiano dos profissionais
destas áreas.
Para
ter amor próprio, não significa que as pessoa devam ter sempre seus desejos
satisfeitos, ser egoísta ou pisar nos outros. O amor próprio faz com que
as pessoas ajam positivamente, procurem evitar pensar no passado, quando há
tristezas ou mágoas, que procurem sempre lembrar que foi mais uma experiência
para poder evoluir, procurando tirar proveito daqueles acontecimentos.
Quem
se ama de verdade, procura possuir controle emocional, procura compreender as
pessoas, estar sempre, ou a maior parte do tempo, de bem com a vida e
esquecer a opinião alheia, não guarda raiva, rancor, está sempre disposto a
perdoar e ter coragem, confiança e segurança para recomeçar.
Perceba como este significado de amor próprio, acaso fosse
colocado em prática pela maioria das pessoas de nossa sociedade, já ajudaria e
muito a nossa convivência. É tão difícil assim fazer o certo, é tão penoso agir
conforme as regras de convivência e de respeito pelo próximo e respeito a si mesmo?
Sim, é muito difícil. Nascer, ser criado, ensinado e bombardeado por uma
indústria e mídia de consumo desenfreado, ter a consciência de agir diferente
da maioria, de ir contra o consumo, de querer bem aquele que se importa com
você. Ufa, cansa só em ler não é?
Não sou e nem quero ser melhor que ninguém, quero ser feliz, quero
viver bem, respeitar e ajudar aqueles que estimo e que estão comigo. Não
enxergo a renúncia de pequenos detalhes da vida em prol de um bem muito maior
como um problema, vejo que ceder um pouco para estar bem com quem se ama é algo
justíssimo, mas pedir que o próximo tenha este mesmo sentimento, este mesmo
altruísmo que tanto espremi aqui, é pedir um pouco demais. Demais porque como
eu escrevi, é muito complicado ter esse tipo de desprendimento, e mais ainda,
ter essa consciência de fazer bem ao próximo, enxergar nesta atitude e princípio
de vida um motivo para todos os dias levantar e fazer o bem, fazer feliz quem
você ama e quem te faz feliz.
É pedir muito ou não é?
Por isso que há momentos na vida em que você cansa em dar socos em
pontas de faca, você cansa de ajudar. Por vezes estamos tão vendados que não
percebemos como nos esforçamos em carregar em nossos ombros uma pessoa que não reconhece
ou que está tão bem amparada, que tudo que foi feito por um bem maior se tornou
banal, se tornou comum. E no fim de tudo, o altruísta é quem mais sofre, é quem
mais pena pela falta de reciprocidade ou simplesmente pela falta de lealdade.
O bem da verdade é que o altruísta lutou tanto para reconhecer em si
esta empatia e ética para com o próximo e com a vida, que não demora muito
volta a agir altruisticamente (até a pronúncia da palavra é difícil).
Cuide de quem você ama, de quem você gosta. Renuncie a certos
orgulhos e seja feliz com quem cuida de você, pois o porvir é incerto e tem
grandes chances de reservar amargura, e arrependimento.
Desejo sabedoria e consciência a você que leu até este ponto, pois
sei que me respeita, considera e que hoje contribui para um despertar altruísta
em você.
Anderson
Domingos de Oliveira
22/10/2014